Coorte 1993

Coortes são estudos conhecidos também como longitudinais, que se baseiam na identificação de um grupo de indivíduos e no seu acompanhamento por um período de tempo. O termo coorte foi criado para denominar os grupos de soldados que marchavam juntos nas legiões romanas no período do Império.

Todas as crianças nascidas entre 1° de janeiro e 31 de dezembro de 1993, residentes na zona urbana de Pelotas, fazem parte do estudo epidemiológico denominado Coorte de 1993. Esse estudo é desenvolvido por pesquisadores do Centro de Pesquisas Epidemiológicas (CPE) e pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas.

A Coorte de 1993 surgiu onze anos após o acompanhamento da primeira coorte – a Coorte de 1982 – por iniciativa dos pesquisadores Cesar Victora e Fernando Barros e com a participação de outros estudiosos. A primeira coorte havia incluído todos os nascidos em Pelotas no ano de 1982.

O objetivo em se ter duas coortes de nascimento com as mesmas características, porém, com uma década de diferença, era permitir a comparação das características materno-infantis da população e a evolução dos principais indicadores de saúde. Além disso, com tais estudos, é possível avaliar a influência que fatores precoces, ocorridos ao nascimento e na infância, têm sobre a saúde ao longo do ciclo da vida.

Para a criação da Coorte de 1993, os pesquisadores gaúchos contaram com o financiamento da Comunidade Econômica Européia. No entanto, para o desenvolvimento do estudo até os dias de hoje, diversas instituições têm contribuído, como: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Programa Nacional para Centros de Excelência; Conselho Nacional de Pesquisa; Ministério da Saúde do Brasil; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS).

Os estudos de coorte são organizados em etapas, que acompanham o desenvolvimento dos participantes. A Coorte de 1993 identificou 5.249 recém-nascidos vivos e vem acompanhando essas pessoas até os dias de hoje. Em todos os acompanhamentos os pesquisadores coletam uma série de informações que são posteriormente analisadas e comparadas com vários outros dados da própria pessoa, de outros participantes da sua coorte ou de outras coortes.

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Principais acompanhamentos da Coorte de 1993

1993

Idade: recém-nascidos
Público-alvo: todos os nascidos vivos nas maternidades de Pelotas

1993

Idade: um mês
Público-alvo: amostra de 13% dos participantes

1993

Idade: três meses
Público-alvo: amostra de 13% dos participantes

1993

Idade: seis meses
Público-alvo: todos os bebês que nasceram com baixo peso e mais 20% dos participantes da Coorte de 1993

1994

Idade: 1 ano
Público-alvo: todos os bebês que nasceram com baixo peso e mais 20% dos participantes da Coorte de 1993

1997

Idade: 4 anos
Público-alvo: todas as crianças que nasceram com baixo peso e mais 20% dos participantes da Coorte de 1993

2004

Idade: 11 anos
Público-alvo: todos os participantes da Coorte de 1993

2008

Idade: 15 anos
Público-alvo: todos os participantes da Coorte de 1993

2011

Idade: 18 anos
Público-alvo: todos os participantes da Coorte de 1993

10º

2015

Idade: 22 anos
Público-alvo: todos os participantes da Coorte de 1993

Os 5.249 participantes da Coorte de 1993 e suas famílias foram muito importantes para o desenvolvimento das pesquisas em saúde para todo o País. Com a boa-vontade dessas pessoas, a comunidade científica obteve informações importantes sobre as diferentes fases da vida dos participantes, desde os hábitos e saúde da mãe durante a gestação, o desenvolvimento da criança, as características do início da adolescência, até a saúde do adulto jovem.

O Centro de Pesquisas Epidemiológicas (CPE) é muito grato pela colaboração de milhares de mães que pouco depois do parto se dispuseram a responder dezenas de perguntas aos pesquisadores, além de permitir que seus bebês recém-nascidos passassem por exames de medidas, pesagens, entre outros.

Mais do que a colaboração que deram aos pesquisadores no hospital, essas mães concederam seus endereços e, sem nenhum benefício direto imediato, abriram suas portas dezenas de vezes para que os pesquisadores acompanhassem o desenvolvimento de seus filhos.

Todo o tempo despendido pelas mães e pelos próprios participantes, e todo o trabalho que os pesquisadores tiveram para encontrar essas mais de cinco mil famílias, é hoje recompensado pelo conhecimento que está à disposição de toda a comunidade científica e da população.

Confira alguns dados da Coorte de 1993

Nascimentos

  • 5.249 nascidos vivos em hospitais da cidade.

Idade das mães

  • De 13 a 48 anos
  • 17,4% das mães tinham menos de 20 anos.

A idade materna aumentou com a renda familiar, sendo as mães de mais alta renda 4,3 anos mais velhas do que as mães mais pobres.

Sexo dos nascidos

  • 49,7 % meninas
  • 50,3 % meninos

Parto

  • 30,5% das mulheres fizeram cesariana.

Cesariana é uma operação abdominal executada para retirar o bebê quando o parto normal não é possível ou seguro.

Cesariana

  • 55,6% das mulheres mais ricas fizeram cesarianas.

Observou-se que as mulheres que apresentaram maior risco foram as que tiveram menos atendimento e atenção médica durante a gestação e parto comparado com as mulheres que apresentaram baixo risco.

Peso ao nascer

  • Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o peso de nascimento é o fator mais importante na sobrevivência infantil. Crianças com baixo peso ao nascer (menos de 2,5kg) têm maior risco de adoecer e morrer do que crianças com peso adequado. Das 5.249 crianças, 510 nasceram com baixo peso.

Amamentação

  • 97% das crianças foram amamentadas.
  • 30% estavam sendo amamentadas aos 6 meses de vida.

Sabe-se que crianças não amamentadas apresentam 30% mais risco de morte no primeiro ano de vida. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que todas as crianças sejam amamentadas no mínimo até os seis meses podendo seguir até os dois anos de idade.

Fumo

  • 33,4% das mães fumaram durante a gravidez.

Os bebês nascidos de mãe fumantes apresentaram um índice de baixo peso duas vezes maior do que os bebês nascidos das mães não-fumantes. Sabe-se que o baixo peso ao nascer é uma das principais causas de morte dos recém-nascidos.

Mortalidade

  • Dos 5.249 nascidos, 111 morreram no primeiro ano de vida.

A mortalidade infantil foi 6,6 vezes maior entre os mais pobres do que entre os mais ricos. Constatou-se que o maior risco de morte ocorre até a criança completar um ano. Por isso, a atenção à saúde nesta fase deve ser reforçada pelos pais e pelos médicos

Comunidade Científica

A coorte das crianças nascidas em Pelotas em 1982 trata-se do maior estudo longitudinal epidemiológico realizado em países da América Latina. O estudo foi realizado em etapas, sendo a primeira denominada Estudo Perinatal em que foram identificados todos os nascidos em hospitais da cidade, de janeiro a dezembro de 1982. Foram registrados 7.392 nascimentos, no entanto, a pesquisa previa focar-se apenas nos nascidos vivos cujas mães residiam na zona urbana da cidade. Essa delimitação levou ao número de 5.914 crianças aptas a participar do estudo.

Acompanhamentos
Durante todo o ano de 82, médicos da equipe de pesquisa visitaram diariamente as três maternidades da cidade a fim de entrevistar as mães que haviam dado à luz e examinar os recém-nascidos. As mães eram entrevistadas a respeito de uma série de fatores biológicos; demográficos; socioeconômicos e assistenciais. Os dados do recém-nascido incluíam sexo, gestação única ou de gêmeos, idade gestacional, morbidade e mortalidade perinatal e tipo de parto. As mães eram pesadas e medidas antes do parto, e os bebês eram pesados logo após o nascimento. A equipe que realizou esse trabalho foi previamente treinada em um estudo-piloto.

Após essa fase de identificação, diversos acompanhamentos foram realizados através de visitas domiciliares.

1983 – Foi realizado acompanhamento das crianças nascidas entre janeiro e abril de 1982, cuja idade média era de 12 meses. Nesse momento, foram utilizados os dados cadastrais informados pelas mães no hospital. Das 1.916 crianças procuradas, 1.457 foram localizadas, o que representou uma perda de 20%. Neste acompanhamento, as crianças foram pesadas e medidas. E suas mães ou responsáveis foram entrevistados sobre suas características socioeconômicas, ambientais, demográficas e relativas à dieta, à morbidade hospitalar e à utilização dos serviços de saúde.

1984 – Foi realizado um censo de todos os 68.590 domicílios da cidade a fim encontrar todas as crianças nascidas em 1982. A iniciativa tinha o objetivo de reduzir a perda de 20% ocorrida em 1983. Este acompanhamento localizou 4.933 crianças, registrando a perda de 12,8%. Através do censo foi possível saber que 45% das famílias haviam trocado de endereço dentro da cidade desde o primeiro contato, há dois anos. Neste segundo acompanhamento, as crianças foram novamente medidas e pesadas e suas mães, entrevistadas. Além dos questionamentos feitos no acompanhamento anterior, os pesquisadores colheram informações sobre algumas doenças comuns e desenvolvimento psicomotor da criança. Ainda, coletaram dados sobre a saúde da mãe. Todos esses dados foram ligados às informações já obtidas no estudo perinatal e no primeiro acompanhamento.

1986 – Foi realizado novo censo em todos os domicílios da cidade. O trabalho de campo durou de dezembro de 1985 a abril de 1986 e a idade média das crianças era de 43 meses. Foram localizadas 4.742 crianças, representando 84,1% do total dos pesquisados. Novamente foram colhidas variáveis socioeconômicas, demográficas, ambientais e alimentares. Entre as novidades deste acompanhamento houve uma breve entrevista com as próprias crianças.

1995 – Foi realizado acompanhamento com 20% da coorte. O método de localização utilizado foi o registro do último acompanhamento. Foram encontrados 715 pesquisados, que estavam com a idade média de 13 anos.

1996 – Foi realizado acompanhamento com 27% da coorte. Foram procurados 1.597 adolescentes, mas foram localizados 1.076. A idade média dos pesquisados era de 14,7 anos.

1997 a 2001 – Foi realizado estudo etnográfico com 96 jovens da coorte, de 15 a 19 anos de idade.

2000 – Foi realizado acompanhamento com todos os jovens do sexo masculino. A identificação dos pesquisados foi realizada por meio do serviço de alistamento militar. Eram esperados 3.037 jovens, mas foram encontrados 2.250, o que se acredita ser o total dos rapazes da coorte que moravam na cidade na época. Neste acompanhamento foram realizados questionários sobre as condições socioeconômicas atuais, hábitos de vida (tabagismo, drogas e atividade física), alimentação, trabalho, morbidade, escolaridade, consumo de medicação, sexualidade, saúde mental e utilização de serviços de saúde. A partir desses dados foi possível avaliar a relação das doenças respiratórias com o baixo peso ao nascer e com o retardo de crescimento intrauterino.

2001 – Foi realizado estudo com 27% da coorte, quando se entrevistou 1.031 jovens com idade média de 18,9 anos.

2004-05 – Foi realizado censo de 98 mil domicílios de Pelotas com objetivo de encontrar todos os participantes da coorte. Foram encontrados 4.297 jovens com idade média de 22,8 anos. Neste acompanhamento foram identificados 282 óbitos desde o nascimento. Além dos questionários padrão, nesta fase houve a coleta de sangue de 3.914 indivíduos (91,1%). A partir dessa iniciativa criou-se o banco de DNA da Coorte de 1982.

O detalhamento do estudo de Coorte de 1982 está registrado em centenas de artigos científicos produzidos pelos pesquisadores do Centro de Pesquisas Epidemiológicas (CPE) e por alunos do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel. Confira alguns desses artigos que estão disponíveis em revistas de acesso livre.

Os instrumentos e questionário utilizados nos principais acompanhamentos e subestudos estão à disposição da comunidade científica.