Coorte 2004

Coortes são estudos conhecidos também como longitudinais, que se baseiam na identificação de um grupo de indivíduos e no seu acompanhamento por um período de tempo. O termo coorte foi criado para denominar os grupos de soldados que marchavam juntos nas legiões romanas no período do Império.

Em 2004, todas as 4.231 crianças nascidas em Pelotas ingressaram em um dos maiores e mais abrangentes estudos de acompanhamento da saúde infantil no mundo: a Coorte de 2004. Este projeto se destaca como o maior em países em desenvolvimento, proporcionando conhecimentos valiosos sobre a saúde desde o nascimento.

A Coorte de 2004 é o terceiro estudo de coorte realizado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas e pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O histórico desses estudos inclui a Coorte de 1982, que acompanhou 5.914 bebês, a Coorte de 1993, com 5.249 crianças e a Coorte de 2015 que incluiu 4.275 recém-nascidos Cada estudo não apenas registrou a saúde ao nascimento e nos primeiros anos, mas vem acompanhando esses indivíduos ao longo da vida, para analisar como as condições de nascimento também influenciam a saúde a longo prazo.

Com a participação de aproximadamente 20 mil pessoas, as coortes documentam mudanças importantes na saúde da população, ajudando a aprimorar os cuidados desde a infância. As informações obtidas têm sido essenciais para a formulação de políticas públicas eficazes.

Um exemplo do impacto dessas pesquisas é a redução da mortalidade infantil em Pelotas, de 20 para 12,3 por mil nascimentos entre 2004 e 2007, resultado direto das recomendações feitas pelos pesquisadores. Essas ações salvaram inúmeras vidas e demonstram a relevância e a importância contínua das coortes de nascimentos em melhorar a saúde pública.

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Principais acompanhamentos da Coorte de 2004

2004

Idade: recém-nascidos
Público-alvo: odos os nascidos vivos nas maternidades de Pelotas em 2004

2004

Idade: três meses
Público-alvo: todas as crianças da Coorte de 2004

2005

Idade: 12 meses
Público-alvo: todas as crianças da Coorte de 2004

2006

Idade: dois anos
Público-alvo: todas as crianças da Coorte de 2004

2008

Idade: quatro anos
Público-alvo: todas as crianças da Coorte de 2004

2010 e 2011

Idade: seis e sete anos
Público-alvo: todas as crianças da Coorte de 2004

2015

Idade: quinze anos
Público-alvo: todos os adolescentes da Coorte de 2004. Porém, devido à COVID-19, apenas 1.949 participantes puderam ser avaliados.

2015

Idade: onze anos
Público-alvo: todos os adolescentes da Coorte de 2004

2019 e 2020

Idade: quinze anos
Público-alvo: todos os adolescentes da Coorte de 2004. Porém, devido à COVID-19, apenas 1.949 participantes puderam ser avaliados.

2021

Idade: dezessete anos
Público-alvo: todos os 1.949 participantes acompanhados aos 15 anos foram convidados a participar deste acompanhamento.

10º

2022

Idade: dezoito anos
Público-alvo: todos os jovens da Coorte de 2004.

Cada uma das 4.231 crianças nascidas em Pelotas em 2004 é muito importante para as pesquisas de saúde. Esse grupo de crianças tem sido fundamental para ajudar a criar ações públicas que buscam melhorar a saúde da população no Brasil e na própria cidade de Pelotas. As pesquisas também têm grande importância para outros países.
Os dados da Coorte de 2004 mostraram que, com medidas bem planejadas e baseadas em evidências científicas, é possível resolver grandes problemas de saúde pública, como a mortalidade infantil. Em 1982, quando começaram os estudos em Pelotas, a mortalidade infantil era alta, com 36 crianças morrendo a cada mil nascidas vivas. Desde então, os pesquisadores passaram a focar seus estudos na prevenção dessas mortes e perceberam que muitos desses óbitos poderiam ser evitados.

Ao longo dos 22 anos de acompanhamento, diversas ações foram implantadas na cidade com base nas pesquisas, como esforços para reduzir nascimentos prematuros e campanhas de incentivo à amamentação. O resultado foi a queda na mortalidade infantil. Em 2004, o índice caiu para 19,4 mortes a cada mil nascidos e três anos depois, para 12,3.
Esses resultados só foram possíveis graças à colaboração de milhares de mães que, após o parto, responderam a muitas perguntas dos pesquisadores e permitiram que seus bebês passassem por exames. Além disso, essas mães deram permissão para que os pesquisadores visitassem suas casas várias vezes ao longo dos anos para acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. Todo o tempo e esforço das mães, crianças e pesquisadores resultou em um conhecimento científico valioso, que agora está disponível para ajudar a todos.

Em 2024, a Coorte de 2004 completa 20 anos de parceria, com colaboração da grande maioria dos participantes que residem em Pelotas e de muitos outros que mudaram para outras cidades. Em 2026 teremos outro acompanhamento e contamos com todos para mais uma etapa de sucesso nesse projeto de vida para os participantes e pesquisadores.

 

Confira alguns dados da Coorte de 2004

  • Nascimentos
  • 4.231 nascidos vivos em hospitais da cidade.

Idade das mães

  • De 12 a 46 anos
  • 18,9% das mães tinham menos de 20 anos.

A idade materna aumentou com a renda familiar, sendo as mães de mais alta renda 4,3 anos mais velhas do que as mães mais pobres.

Sexo dos nascidos

  • 48,1 % meninas
  • 51,9 % meninos
 

Parto

  • 45,2% das mulheres fizeram cesariana.

Cesariana é uma operação abdominal executada para retirar o bebê quando o parto normal não é possível ou seguro.

Cesariana

  • 64,5% das mulheres mais ricas fizeram cesarianas.

Observou-se que as mulheres que apresentaram maior risco foram as que tiveram menos atendimento e atenção médica durante a gestação e parto comparado com as mulheres que apresentaram baixo risco.

Peso ao nascer

  • Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o peso de nascimento é o fator mais importante na sobrevivência infantil. Crianças com baixo peso ao nascer (menos de 2,5kg) têm maior risco de adoecer e morrer do que crianças com peso adequado. Das 4.231 crianças, 424 nasceram com baixo peso.
 

Amamentação

  • 97,2% das crianças foram amamentadas.
  • 56% estavam sendo amamentadas aos 6 meses de vida.

Sabe-se que crianças não amamentadas apresentam 30% mais risco de morte no primeiro ano de vida. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que todas as crianças sejam amamentadas no mínimo até os seis meses podendo seguir até os dois anos de idade.

A amamentação aumentou bastante em 22 anos:

  • 1982 – os bebês mamavam em média 3,1 meses.
  • 1993 – os bebês mamavam em média 4 meses.
  • 2004 – os bebês mamavam em média 6,8 meses.
 

Fumo

  • 27,6% das mães fumaram durante a gravidez.

Os bebês nascidos de mãe fumantes apresentaram um índice de baixo peso duas vezes maior do que os bebês nascidos das mães não-fumantes. Sabe-se que o baixo peso ao nascer é uma das principais causas de morte dos recém-nascidos.

Mortalidade

  • Dos 4.231 nascidos, 82 morreram no primeiro ano de vida.

A mortalidade infantil foi 4,4 vezes maior entre os mais pobres do que entre os mais ricos.
Constatou-se que o maior risco de morte ocorre até a criança completar um ano. Por isso, a atenção à saúde nesta fase deve ser reforçada pelos pais e pelos médicos.

A amamentação aumentou bastante em 22 anos:

  • 1982 – os bebês mamavam em média 3,1 meses.
  • 1993 – os bebês mamavam em média 4 meses.
  • 2004 – os bebês mamavam em média 6,8 meses.

A mortalidade entre as crianças diminuiu em 22 anos:

  • 1982 – morriam 36 crianças a cada mil.
  • 1993 – morriam 21,2 crianças a cada mil.
  • 2004 – morriam 19,4 crianças a cada mil.
 

Mesmo com a queda nos índices de mortalidade, os pesquisadores seguem trabalhando com o objetivo de diminuir ainda mais o número de óbitos entre crianças. Sabe-se que a redução dos partos prematuros e o aleitamento materno são fatores importantes para evitar a morte no primeiro ano de vida.

Desenvolvimento das crianças
Crianças mais desenvolvidas foram estimuladas da seguinte forma:

  • Ouvindo histórias lidas por adultos.
  • Tendo um livro de histórias.
  • Fazendo visitas a amigos e parentes.
  • Passeando em parques.
  • Assistindo um pouco de televisão.
 

Estudos comprovaram que além das práticas listadas, jogos, brincadeiras, adivinhações e teatrinhos estimulam o desenvolvimento de crianças nos primeiros anos de vida.

Dados aos 18 anos de idade
Avaliados

  • 3.489 participantes, o que representa 85% da coorte original.
 

Obesidade

  • Proporção de indivíduos com obesidade: 15,5%

A obesidade, definida como IMC>;30 kg/m²*, está associada a vários problemas de saúde como perda de mobilidade, doenças ósseas, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. Alimentação saudável, atividade física e sono adequado são o tripé para equilibrar o peso e melhorar a qualidade de vida.
*IMC: peso/(altura) 2

Tabagismo

  • Tiveram hábito de fumar pelo menos uma vez por semana: 12,6%
  • Fumantes ativos: 8,6%

O hábito de fumar está associado a mais de 50 doenças, incluindo problemas cardiovasculares, respiratórios e câncer. Estima-se que 10% dos fumantes tenham 20 anos a menos de expectativa de vida, em comparação com os não-fumantes.

Consumo de bebidas alcóolicas

  • Consumo de bebidas alcoólicas duas ou mais vezes na semana: 12%

O álcool pode causar dependência e aumentar o risco de doenças hepáticas, cardíacas e câncer. Pode desencadear depressão e ansiedade, além de incapacidade para o trabalho e acidentes de trânsito. O consumo consciente contribui para uma melhor qualidade de vida e bem-estar social e pessoal.

Trabalho

  • Já trabalhou alguma vez: 60,5%
  • Trabalhando no ano de 2022: 35,2%

Duração do sono

  • Duração média de sono em dias de semana:

6,8h para os meninos
7,1h para as meninas.

  • Nos finais de semana:

8,2h para os meninos
8,8h para as meninas

Jovens entre 18 e 25 anos devem dormir de 7 a 9 horas de sono por dia, de acordo com a National Sleep Foundation. O sono desempenha um papel crucial na restauração do corpo e da mente após períodos de atividade diária, sendo essencial para a saúde física, emocional e mental.

Qualidade do sono

  • Boa ou muito boa: 82,9%
  • Ruim ou muito ruim: 17,1%

O sono ruim, de má qualidade, assim como a privação de sono, pode estar associado a condições como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e problemas de saúde mental.

Pressão arterial

  • 1,6% dos participantes apresentaram pressão arterial elevada aos 18 anos

Uma medida acima de 140×90 mmHg indica pressão arterial elevada, uma condição crônica que aumenta o risco de morte prematura.
Fatores de risco modificáveis, como dieta rica em sal e gorduras trans e saturada, consumo de álcool, tabagismo e inatividade física, contribuem para o desenvolvimento da hipertensão arterial.

Comunidade Científica

A Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004 foi criada para dar continuidade às coortes de nascimento de Pelotas de 1982 e 1993, formando um grupo de 15 mil pessoas para avaliar as mudanças nos padrões sociais e epidemiológicos de saúde.

Metodologia da Coorte de 2004

Todas as crianças nascidas em Pelotas, de janeiro a dezembro de 2004, cujas mães residiam na zona urbana da cidade, foram incluídas. A Coorte de 2004 também incluiu recém-nascidos do Bairro Jardim América, em Capão do Leão, para aumentar a comparabilidade com as demais coortes. Ao todo, 4.231 crianças foram incluídas, um número menor comparado às coortes anteriores.

Primeiros Acompanhamentos

  • Perinatal e 3 meses: Entrevistas com as mães nas primeiras 24 horas após o parto e visitas domiciliares aos 3 meses.
  • 12 meses: Nova visita domiciliar para coletar informações sobre a situação socioeconômica da família, saúde mental da mãe e desenvolvimento da criança.
  • 24 e 48 meses: Acompanhamentos domiciliares focados no desenvolvimento da criança.
  • 6 anos: Este acompanhamento, aos 72 meses, foi realizado nas instalações do Centro de Pesquisas Epidemiológicas (CPE), equipado com tecnologia avançada. Avaliações incluíram medidas de saúde, dieta, composição corporal, estilo de vida, qualidade de vida das crianças e suas mães, e testes de cognição e saúde mental.

 

Acompanhamentos na Adolescência

  • 11 anos (2010-2011): Medidas de antropometria, composição corporal e atividade física, além de questionários sobre saúde geral e mental materna e alimentação do adolescente.
  • 15 anos (2019-2020): Interrompido pela pandemia de COVID-19, cerca de metade dos participantes foram entrevistados. Incluiu avaliações de saúde e coleta de amostras de cabelo para análise de cortisol.
  • 17 anos (2021): Subestudo para avaliar o impacto da COVID-19 na vida dos jovens, com nova coleta de cortisol capilar.

 

Acompanhamento aos 18 Anos

Em 2022, o acompanhamento foi feito em duas etapas: entrevistas domiciliares com os jovens e suas mães, seguidas por avaliações clínicas no CPE, incluindo medidas de saúde, coleta de sangue e análise de atividade física.

Produção Científica e Recursos Disponíveis

Os estudos da Coorte de 2004 resultaram em dezenas de artigos científicos disponíveis em revistas de acesso livre. Instrumentos e questionários utilizados estão à disposição da comunidade científica.
A Coorte de 2004 é um exemplo de continuidade e inovação em pesquisa de saúde, contribuindo para avanços significativos no entendimento dos padrões sociais e epidemiológicos no Brasil.

Ano 2022 - 18 anos

Ano 2021 - Subestudo COVID-19

Ano 2019 - 15 anos

Ano 2015 - 11 anos

Ano 2010 - 11 a 6 anos

Ano 2008 - 48 meses

Ano 2006 - 24 meses

Ano 2005 - 12 meses

Ano 2004 - 3 meses

Ano 2004 - Perinatal