Teses - PPGEpi

Título:

Consumo de bebida alcoólica e excesso de peso em trabalhadores rurais

Autor:

Juliana Lopes Fávero

E-mail:

jujufavero@yahoo.com.br

Área de concentração:

Orientador:

Anaclaudia Gastal Fassa

Banca examinadora:

Elaine Tomasi, Luiz Augusto Facchini e Rogério Linhares

Data da defesa:

26/06/2017

Palavras-chave:

Álcoolismo; Excesso de peso; População rural

Resumo:

O processo de trabalho na fumicultura pode promover o excesso de peso e uma cultura de consumo de bebida alcoólica. O trabalho na fumicultura apresenta grande demanda física, com longas jornadas de trabalho, e exposição a vários agentes químicos durante todo o ciclo produtivo Entretanto, não há estudos que avaliem se essas cargas, a exposição química e a sazonalidade da intensidade de trabalho, típica na agricultura, influenciam no ganho de peso e nos padrões de consumo de bebida alcoólica. Objetivos: Descrever a prevalência do beber pesado e consumo de risco de bebida alcoólica e fatores associados em agricultores que cultivam fumo, descrever a prevalência e os fatores associados ao excesso de peso em fumicultores que aplicaram agrotóxicos no Sul do Brasil, e realizar revisão sistemática da literatura sobre os padrões perigosos e nocivos do consumo de álcool em população rural, mensurados pelo AUDIT. Métodos: Foi realizado estudo transversal em 2469 fumicultores e um sub-estudo com 488 aplicadores de agrotóxicos, ≥18 anos, em 2011. Foi considerado consumo de risco de bebida alcoólica a ingestão de ≥3 doses padrão/dia em homens e ≥2 em mulheres. O beber pesado foi a ingestão de ≥4 doses padrão/dia em homens e ≥3 em mulheres. Foram mensurados peso e altura e calculado IMC. Foi realizada análise multivariada hierarquizada, que examinou a associação das variáveis socioeconômicas, comportamentais, ocupacionais e de exposição a agrotóxico com consumo de bebida alcoólica e com excesso de peso. Para a revisão de literatura sobre AUDIT foi realizada busca bibliográfica nas bases de dados Medline, Web of Sciences e PsychArticles, até o dia 13 de maio de 2017. Foram utilizados os descritores “alcohol” e “rural”. Foram extraídas as prevalências dos artigos realizado cálculo do efeito combinado das prevalências, utilizando o ponto de corte de AUDIT positivo na população total e por sexo, e do risco de sexo masculino, utilizando o método aleatório. Avaliou-se viés de publicação, o I2 e metarregressão para a identificação da heterogeneidade. Resultados: A prevalência do consumo de risco e beber pesado foi 4,7% e 1,09% em mulheres e 30,8% e 4,8% em homens, respectivamente. Foram associados com consumo de risco em homens e mulheres o percentual da renda representada pelo fumo (RP 1,3 e 0,4), ser empregado (RP 1,3 e 3,1) e uso de agrotóxico (RP 1,5 e 2,1), respectivamente. Foi associado a beber pesado em homens perda da lavoura (RP 1,6), participação em atividades religiosas (RP 0,3) e horas de trabalho agrícola (RP 0,6). A prevalência de excesso de peso e obesidade foram 51,8% e 12,7%, respectivamente. Em homens o excesso de peso e obesidade foi de 46,2% e 10,2%, e para mulheres 69,3% e 20,6%, respectivamente. Os fatores associados ao excesso de peso foram sexo feminino, idade, presença de companheiro e contato com herbicida à base de Glifosato (RP 1,25; IC95% 1,06-1,48). O tabagismo e as atividades ocupacionais de maior demanda física não foram significantes na análise ajustada. Na revisão sistemática foram identificados 14 estudos com prevalência de consumo nocivo de bebida alcoólica que utilizaram AUDIT em população rural. A prevalência de AUDIT positivo na população total variou de 4 a 60%, sendo 3 a 87% em homens e 1 a 49% em mulheres. A prevalência de AUDIT positivo em homens foi superior a 20% em 7 dos 10 estudos, e em mulheres a maioria dos estudos apresentou prevalências abaixo de 10%. Os efeitos combinados apresentaram um I2 ≥90% e p<0,001. Sexo masculino apresentou 3 vezes mais risco (IC95% 1,26-5,80), com I2=75,8% p=0,002 para AUDIT positivo comparado às mulheres. Aspectos sociodemográficos, comportamentais, de suporte social e econômicos foram encontrados associados. Conclusão: Os padrões de consumo de bebida alcoólica observados na zona rural são um problema importante de saúde pública, principalmente em homens. Existe associação de fatores ocupacionais com o consumo de risco de bebida alcoólica, e os fatores associados variam conforme o padrão avaliado. Em relação ao AUDIT positivo, existe grande variabilidade nas prevalências, considerando população total e por sexo. Este estudo encontrou prevalências importantes de excesso de peso e obesidade na população de fumicultores, principalmente entre as mulheres. Neste contexto, além da idade e estado civil, fatores ocupacionais relacionados ao processo produtivo do fumo como exposição a herbicidas à base de Glifosato devem ser considerados na cadeia causal. Fatores usualmente associados com redução de peso como tabagismo e atividades laborais de maior demanda física não estiveram associados com o excesso de peso.